quinta-feira, 9 de maio de 2013


Por Túlio Silva
Foto RJ Castilho

De passagem por São Paulo no início do mês para noite de autógrafos de seu novo lançamento nacional, Na cozinha com Nigella – receitas do coração da casa (editora Record), a apresentadora britânica Nigella Lawson conversou com a reportagem de Prazeres da Mesa no hotel Sheraton WTC sobre um de seus assuntos favoritos: comida.

Durante os 20 minutos de conversa, a cozinheira falou de suas memórias afetivas e acabou com alguns dos muitos mitos que sua personalidade desperta. Teve tempo ainda para fazer uma verdadeira ode às comidas em geral, sem se preocupar com calorias, apenas com o sabor. “Sem bacon, a vida seria muito pobre”, afirma a apresentadora. Confira abaixo a entrevista completa com Nigella:


PRAZERES DA MESA – Você é conhecida por gostar de comer, e gostar de comer bem. Como começou sua relação com a gastronomia? O que você se lembra de comer na infância?

NIGELLA LAWSON – Eu não era muito de comida quando criança, mas me lembro muito bem de dois pratos de que eu gostava muito. O primeiro era um bolo da minha avó, de café com nozes. As pessoas podem até se assustar, já que alguns pensam que a Inglaterra só tem chá, não é? O outro é um frango assado, cuja receita em ensino neste livro novo (página 222). Também lembro de várias outras comidinhas que você não encontra fora da Grã-Bretanha, como alguns tipos de uso para pepino e salsichas; e pão frito com tomates, que eu acho muito engraçado quando paro para pensar, pois comíamos no café da manhã. Acho bem inusitado fazer esse tipo de refeição quando criança, logo pela manhã, mas é que era muito barato. Fatias de pão frito com tomate, é algo realmente muito barato.

PDM – Na verdade, aqui no Brasil estamos vivendo uma certa crise dos tomates, eles estão mais caros do que de costume, e as pessoas estão reclamando.

NL – Não! Você está falando sério? Eu acreditava que eles fossem abundantes por aqui, ainda mais por serem como uma trepadeira, achava que vocês podiam ter o quanto quisessem. Mas pelo visto não é bem assim.

PDM – E essas receitas da sua infância, você teria alguns livros da sua avó, por exemplo? E costuma prepará-las ainda, em casa ou na televisão?

NL – Na verdade não. Nem tenho vontade. As comidas que eles realmente faziam não passavam para os cadernos de receitas, nesses eles colocavam apenas recortes de revistas e jornais, o que acaba tornando-os muito ultrapassados, representativos de uma época, datados. Algumas coisas da minha avó eu ainda costumo fazer, aquelas receitas mais clássicas, por exemplo um pudim de pão, que é algo super britânico. Ela costumava colocar gengibre, o que deixava ele realmente delicioso, eu adoro esses sabores picantes mais fortes. O que eu quis dizer com não reproduzir as receitas de família é que você conserva apenas parte delas, acaba incrementando-as, colocando nelas muito do que você é.  Eu inclusive penso isso das minhas, não acredito que os meus filhos irão fazê-las no futuro. Talvez eles utilizem alguma coisa delas; mas quando partimos, nossas receitas partem conosco.

PDM – Você costuma usar algum ingrediente brasileiro em sua cozinha?

NL – Eu não conheço muito bem os ingredientes para saber se são necessariamente do Brasil. Acho que poderia citar o papaia, que eu amo muito. Ah, e o maracujá. Inclusive, uma das receitas que leva minha assinatura é uma Pavlova com a calda da fruta, está no meu primeiro livro. É uma das coisas mais maravilhosas e bonitas que existem no mundo.

PDM – E você costuma comer muito? Igual parece fazer no seu programa?

NL – Não, de forma alguma. O que aparece no programa é uma loucura. Eu gravo o meu programa durante a semana e os produtores precisam fazer tudo caber em 30 minutos, então parece que eu realmente como demais, mas não é isso. Costumo comer só nos horários de refeições mesmo, café da manhã, almoço e jantar, não fico beliscando. Isso acaba sendo muito diferente do que algumas amigas que eu tenho fazem. Elas não sabem comer, reclamam e estão sempre de dieta. Quando eu quero comer sorvete, por exemplo, eu como o suficiente, não faço igual a elas que comem um pote inteiro de uma só vez. E isso já está se tornando um ciclo vicioso, uma vez que as crianças estão aprendendo a ser assim, comer até não poder mais.

PDM – Em relação à sua cozinha, muita gente fala em “food porn”, com características de grande uso de gorduras como manteiga e bacon, às vezes fritos juntos. Como você vê essa relação?

NL – Bacon frito na manteiga? Isso é fabuloso, fabulosamente decadente (risos). Eu amo os dois, fazem um ótimo casal, e óleo também. O que eu penso é que as pessoas estão muito histéricas. Se eu faço uma receita e coloco manteiga nela, começam a pensar “meu senhor Deus, me salve, isso é não é saudável!” Mas, se você parar para pensar, uma receita, por exemplo, que leva 100 g de manteiga e alimenta oito pessoas, não é muito. E não é todo dia que você faz isso, é uma questão de balanço. Eu me sinto muito bem comendo e sinto pena das pessoas, que por motivos muito bobos, têm medo da gordura. Eu acho que ela é muito importante, é boa para cozinhar, faz bem para a pele e, como animais que somos, para nós é muito importante consumir gordura. Eu li um artigo, por exemplo, que dizia que é fácil encontrar gorduras saudáveis em animais de cada região, como os povos primitivos faziam. No sudoeste da França eles usam gordura de ganso, regional, e eles são pessoas muito saudáveis. Na Inglaterra tem lardo, tem gordura de porco e manteiga, que são todas gorduras locais, faz sentido cozinhar com elas. Eu inclusive acho que uma vida sem bacon, seria uma vida realmente muito pobre. Não sei se você viu, mas esses dias mesmo, só pra amedrontar essas pessoas que têm problemas com bacon e manteiga, eu coloquei uma receita no meu website de um cupcake com um creme amanteigado e polvilhei com bacon (veja a receita aqui), é maravilhoso!

Fonte: Revista Prazeres da Mesa

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